Pode-se parecer um tanto quanto filosófico, mas saber o que dá sentido à sua vida pode ajudar você a evitar o tédio, a depressão e até o suicídio. Um estudo realizado por Shigehiro Oishi da Universidade da Virginia e Ed Diner da Gallup, o qual envolveu 140 mil pessoas em 132 países, descobriu que a variável que melhor serviu para prognosticar, ou seja, prever o suicídio foi exatamente o sentido, ou melhor a sua falta. Assim, países com as taxas mais baixas de sentido como o Japão, estiveram entre as taxas mais altas de suicídio.
Desta forma, ter uma vida com sentido não é algo para se pensar apenas no fim de uma vida, na aposentadoria, em um curso de meditação ou de filosofia, deve fazer parte do nosso cotidiano, da nossa educação e até da saúde pública de um país. As consequências de deixar essa discussão para depois têm sido catastróficas, como mostram os números a seguir: segundo a OMS (2018) oitocentos mil pessoas morreram por suicídio em todo mundo em 2017, quase 1,5% de todas as mortes no mundo, sendo que essa foi a segunda causa de morte nos jovens da faixa etária de 15 a 29 anos. Em relação à depressão o Brasil é o país com maior prevalência da América Latina e o segundo nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Victor Frankl professor de Neurologia, Psiquiatria e fundador da Logoterapia buscou entender o conceito de sentido de vida para o ser humano e percebeu que cada vez mais os psiquiatras são e serão procurados por pacientes com questões humanas, onde apenas remédios não serão suficientes. Parte dessas pessoas que hoje buscam um médico confrontam-no com a pergunta: “Qual o sentido da minha vida?”.
Frankl exemplifica três formas que a falta de sentido se manifesta no cotidiano:
Tédio: o estado de tédio, para o autor, é a principal forma do vazio existencial se manifestar, o autor acredita que o processo de automação tem conduzido e conduzirá cada vez mais ao aumento das horas de lazer do trabalhador, no entanto, lastimavelmente, ele não tem sabido como aproveitar esse tempo livre adicional.
“Neurose dominical”: uma espécie de depressão que acomete as pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas quando passa o “corre corre” da rotina semanal, momento em que o vazio se torna manifesto, gerando os casos de muitos dos suicídios, agressões e vícios.
Vontade de poder: essa seria uma forma de mascarar a vontade frustrada de sentido. E que em outros episódios pode ser substituído pela vontade de se ter prazer exacerbadamente.
O contrário desse vazio existencial é sentir que sua vida tem sentido, segundo psicólogos da área, isso significa cumprir com três condições:
Acreditar que sua vida é relevante e digna de valor
Acreditar que sua vida é parte de algo maior, parte de um todo.
Acreditar que sua vida tem sentido e sente que é guiada por uma razão de ser, uma direção.
Pesquisas de um novo movimento da Psicologia Positiva sugerem que a busca do sentido é bem mais satisfatória do que a busca pela felicidade pessoal. Onde a “felicidade sem sentido” caracteriza-se como rasa, autocentrada, enquanto que a vida com sentido corresponde a ser “doador”, e sua característica definidora seria a conexão e a contribuição para algo além de si.
Pensando nisso Veronika Huta, da Universidade de Ottawa e Richard Ryan, da Universidade de Rochester, dividiram universitários em dois grupos, um instruíram a fazer uma coisa por dia para aumentar seu prazer e ou outro orientaram a fazer uma coisa por dia para aumentar seu sentido de vida, ambos os grupos fizeram isso por dez dias. Constaram, então, que o grupo do prazer tinha experimentado mais sentimentos positivos, mas após três meses esse ânimo havia acabado. E o grupo do sentido não se sentiram felizes após o experimento, mas classificaram suas vidas como mais significativas e três meses depois declararam se sentir “completos”, “inspirados” e “parte de algo maior que eles mesmo”.
Assim, entender e fazer coisas que dão sentido às nossas vidas nos faz perceber que somos importantes, torna nossa vida melhor e mais completa. E claro não existe uma solução única recomendada para todas as pessoas que buscam ter sentido em suas vidas, mas os estudos mostram que a vida voltada à contribuição possui mais sentido que uma vida voltada apenas para si, isso já pode ser um bom ponto de partida.
Nos próximos artigos estarei falando e compartilhando mais sobre o assunto, conceito tão importante que vem ganhando destaque na ciência devido sua relevância e que inclusive tornou-se assunto do meu TCC da pós-graduação.
Mas, por fim, gostaria de finalizar com o conceito de Aristóteles para uma vida com sentido:
Para ter uma vida com sentido é necessário que a pessoa cultive suas melhores qualidades, do ponto de vista tanto moral como intelectual, e faça jus ao seu potencial. Que tenha uma vida ativa, uma vida que cumpra sua função e contribua para a sociedade, uma vida em que se envolva com a comunidade, uma vida, acima de tudo, que atinja seu potencial em vez de desperdiçar seus talentos.
E você, sente que sua vida tem sentido?
Por Ana Melo Dias
Psicóloga e Personal e Professional Coach
Coach de Propósito de Vida
Especialista em Psicologia Positiva
P.S.:
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