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A comparação e a insatisfação no trabalho: como lidar? - parte de 2/3


Eu sigo escrevendo sobre a insatisfação no trabalho sobre uma ótica diferente. Tendo em vista que 90% dos profissionais se sentem insatisfeitos no trabalho, como disse no artigo inaugural dessa série, é importante perceber que possivelmente a insatisfação não tem relação APENAS com questões pessoais. Parte dessa insatisfação pode estar relacionada com contextos culturais e sociais. Na parte I da série escrevi sobre as expectativas desmedidas, ou seja, quando o que se imagina é desproporcional a realidade.

E na parte II eu vou buscar trazer reflexões sobre um segundo aspecto importante, a comparação devido o seu poder de impacto em nossas emoções.

“Na verdade, deve-se atribuir às comparações com as outras pessoas a principal responsabilidade por nossas sensações de inadequação e descontentamento” (Sonja Lyubomirsky).

Ler essa frase para mim foi de muito impacto, a comparação como a principal responsável pela nossa insatisfação, uau!

Ou seja, no íntimo, em vários aspectos e principalmente em relação ao sucesso o ser humano entende que:

“Para a verdadeira felicidade, não basta ser-bem-sucedido... É preciso que os amigos fracassem”(Gore Vidal).

É da nossa espécie pensar assim, uma rosa não ficaria chateada porque a rosa ao lado é mais colorida que ela ou por ter menos espinhos. Mas enquanto humano, por mais que eu espero que as pessoas ao meu redor sejam felizes, vivemos em uma cultura de alta competição e aprendemos desde de crianças que o desempenho é medido, por isso desenvolvemos uma série de defesas e comportamentos que buscam nos dar vantagens sobre nossos irmãos, colegas de classe, colegas de trabalho. A comparação é uma tentativa de defesas e não tem como impedir que ela exista ou seja ignorada. O que precisamos fazer é saber nos proteger mentalmente para conseguir desconsiderar o impacto destrutivo da comparação.

Especialmente, porque se formos racionais saberemos que somos extremamente injustos com nós mesmos durante a comparação, quase que majoritariamente toda comparação é injusta. A única comparação justa é você com você. Não conhecemos o cenário real das pessoas com as quais nos comparamos, não conhecemos sobretudo as dificuldades e defeitos de determinadas escolhas, muito menos se estamos comparando profissões e carreiras, as quais muitas vezes romantizamos. A carreira ideal é a que faz mais sentido para você.

É preciso aprofundar nesta questão da comparação, ela é muito séria e está intimamente ligada há vários processos de adoecimento, prova disso foi uma pesquisa feita pela instituição Royal Society For Public Health realizada no Reino Unido com 1.479 pessoas, de 14 a 24 anos, nela constatou-se que 90% das pessoas dessa pesquisa utilizam redes sociais, e concluíram que o Instagram é a rede social mais nociva à saúde mental dos usuários, dentre os motivos está o fato de ser uma rede baseada em imagem. É como se tivéssemos uma vitrine de vidas e corpos que eu acredito que existam, mas não possuo, ficam apenas na minha mão, onde eu vou estar constantemente me comparando com a chamada "vida de Instagram", a qual não é real,sem conseguir lidar com isso. Mulheres são ainda mais afetadas pela rede de acordo com a pesquisa, o que faz sentido já que são os alvos de muitas exigências ligadas à imagem. Muitos relatos são como os de Isla:

"Eu passei por uma depressão profunda quando tinha 16 anos, ela durou meses e foi terrível. Durante esse período, as redes sociais me fizeram sentir pior, eu constantemente me comparava com outras pessoas e isso fazia eu me sentir mal (...). Quando eu tinha 19 anos, tive outro episódio de depressão profunda. Eu entrava nas redes sociais, via meus amigos fazendo várias coisas e me odiava por não conseguir fazê-las ou me sentia mal por não ser uma pessoa tão boa quanto eles".

Os jovens estão mais vulneráveis à comparações, mas os adultos também estão sofrendo com isso, as redes sociais são plataformas que intensificam as comparações por criarem recortes da vida de alguém, mas esses recortes são manipulados e tem intenções. Pessoas trabalhando de casa, na praia, chegando ao sucesso com poucos anos, sendo CEOs, sendo capas de revistas, tendo carreira internacional, donos de empresas bem-sucedidas, uma infinidade de notícias das quais somos bombardeados. Lógico! Ninguém vai a público contar sua derrota, sem que ela seja ao menos uma história de superação ou um bom drama.

Para lidar com a comparação é necessário aprender a ter uma mente mais preparada para não se deixar abater. Seguem quatro dicas importantes para contribuir com esse fortalecimento:

  • Invista mais em momentos de introspecção e de autoconhecimento, para que possa expressar sua própria essência. É importante saber e SENTIR o que faz sentido para VOCÊ.

  • Entenda a complexidade do contexto em que estamos vivendo, ou seja, expanda a percepção para o que lhe atinge: por quem, por onde você costuma ser influenciada/o.

  • Saiba escolher a quem você dá atenção. Sua atenção, hoje, vale mais que petróleo. Há milhares de empresas e pessoas que estão competindo, neste exato, momento por sua atenção (inclusive eu), saiba que você vai ser influenciada/o por quem você segue, por isso dê preferência a se relacionar nas redes por pessoas que gosta e fazem bem a você.

  • Reconheça seus esforços, viver não é fácil, você tem muitas conquistas. É preciso seguir em frente, se você está sendo paralisada/o por pensar na conquista dos outros, é importante buscar ajuda.

Uma vela não se apaga porque outra se acendeu, não é verdade? Quanto mais pessoas bem sucedidas melhor.

“Quando não houver qualquer cobrança, sentimento de empobrecimento, indício de ansiedade relacionados à descoberta de quem alguém é muito mais bem-sucedido do que você em um determinado campo, você terá alcançado mais maturidade – e, portanto, felicidade – do que a média das pessoas” (Sonja Lyubomirsky).

Por fim, acredito que não há nada mais poderoso do que ser você mesmo, autêntico/a, isso para mim é sucesso e não é possível descobrir quem é você olhando para fora. Mas o que é sucesso para você?

Recomendações:

Ana Melo Dias

Ana Melo Dias

Psicóloga, Personal e Professional Coach

Coach de Propósito de Vida e Crise dos 30

Especialista em Psicologia Positiva

Mestranda em Ecologia Social pela UFRJ

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