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  • Foto do escritorAna Melo Dias

Autoconhecimento, algoritmos e consumo consciente: como nos preparar para a nova era tecnológica




Talvez, em nenhum outro momento histórico, conhecer a si foi tão importante. Com o desenvolvimento de algoritmos de aprendizagem muito do que foi propriamente humano agora pode ser previsto pela inteligência artificial. Como tudo na vida, isso tem seu lado bom e seu lado ruim. E para conseguir aproveitar essa nova fase de forma saudável devemos nos preparar.


Algoritmos (sou leiga nisso, então essa é a forma que entendo) são um tipo de passo a passo lógico que o ser humano usa para traduzir o que deseja criar em um computador, uma espécie de receita de bolo com vários passos a passos detalhados que permitem realizar das coisas mais simples como resolver uma soma às mais complexas como pilotar um avião.


Os algoritmos nascem “dependentes” dos seres humanos os criarem, no entanto, com o desenvolvimento tecnológico, inventou-se algoritmos que aprendem continuamente independente do comando humano, chamados de algoritmos de aprendizagem ou evolutivos.


“(...) algoritmos de aprendizagem ou algoritmos evolutivos, são diferentes: sabem o que fazer por sua conta, com base em inferências feitas a partir de dados. E quanto mais dados tiverem, melhores se tornam. Agora, não temos de programar os computadores: eles programam-se a si mesmos Pedro Domingos, livro A revolução do Algoritmo Mestre.

Logo, a partir do Big Data (o conhecimento sobre armazenar, de forma rápida, um grande volume e variedade de dados gerados e recolhidos de programas e aplicativos), o comportamento de cada vez mais pessoas passa a ser mapeado e codificado. Então, por exemplo, toda pesquisa que você faz no Google gera dados, esses dados são gravados e distribuídos na rede. Quem sabe como isso funciona usa esses dados de uma maneira que será útil para empresas, as quais identificam o seu perfil e fazem previsões sobre a sua forma de comprar, por exemplo. Logo, no próximo site que você entrar terá um anúncio personalizado para você.


Cada algoritmo funciona diferente, de acordo com o autor Pedro Domingos se pudéssemos fazer uma metáfora: um guia de biblioteca se comportando como o algoritmo da Amazon e outro se comportando como o algoritmo da Netflix. O primeiro levaria você para sessões de livros que você está acostumado a gostar, enquanto o segundo iria lhe mostrar uma sessão de livros inusitada, aparentemente estranha, e que você, surpreendentemente, iria adorar.


É importante saber que nem todo algoritmo criado é criado para lhe vender algo, recentemente, criou-se um algoritmo no Instagram capaz de identificar palavras de cunho “depressivo” que alguém pode estar usando nas postagens. Essa automação entende que quem está fazendo isso precisa de ajuda especializada, assim oferece a ajuda do CVV (Centro de Valorização da Vida). Em Amsterdã, criou-se uma outra inteligência artificial que identifica violência contra menores em vulnerabilidade social. A prefeitura usa o Big Data para prever e realizar medidas contra a desigualdade social. Quanto mais pessoas interessadas na tecnologia, no social, no ambiental e na saúde, mais possibilidade de criarmos algoritmos que nos ajudem.


Vejam que o algoritmo e o Big Data em si não são problemas, mas o que se faz com eles e a intenção podem se tornar problemas. É quase impossível brigar e barrar o desenvolvimento tecnológico dos algoritmos de aprendizagem, há alguns anos já convivemos com as inteligências artificiais e as aprendizagem automáticas. E por esse motivo é bem importante entender as modificações que trazem na nossa vida.


Yuval Noah Harari, historiador e autor do best seller “Sapiens: uma breve história da humanidade”, em seu outro livro “21 lições para século 21”, vem fazendo previsões do que significa unir a tecnologia dos algoritmos de aprendizagem com o mapeamento bioquímico, ou seja, ele busca entender, a partir da história humana, o que pode acontecer quando programas começam a saber sobre o nosso organismo, inclusive as interações bioquímicas do cérebro, responsáveis pelas nossas emoções e comportamentos.


Novamente, há previsões boas e ruins, no entanto, ele chama atenção para o fato do desconhecimento que temos de nós mesmos, a nossa falta de autoconhecimento. E da carência de informação e de interesse sobre a tecnologia que usamos no nosso dia-a-dia.


“À medida que a tecnologia se aperfeiçoava, aconteceram duas coisas. Primeiro, quando facas de sílex evoluíram gradualmente para mísseis nucleares, ficou mais perigosos desestabilizar a ordem social. Segundo, à medida que pinturas rupestres gradualmente evoluíram para transmissões televisivas, ficou mais fácil iludir pessoas. No futuro próximo, algoritmos poderão completar esse processo, fazendo com que seja praticamente impossível que as pessoas observem a realidade por si mesmas. Serão os algoritmos que decidirão por nós quem somos e o que deveríamos saber sobre nós mesmos.
Por mais anos ou décadas, ainda teremos escolha. Se fizermos esse esforço, ainda podemos investigar quem somos realmente. Mas, se quisermos aproveitar essa oportunidade, é melhor fazer isso agora.” Yuval Noah Harari, livro 21 lições para o século 21.

Ou seja, para o autor, a consequência desse duplo desconhecimento (sobre nós e sobre a tecnologia) é nos iludir e depositar nossa confiança no poder de decisão, sem crítica, de algoritmos, como nos resultados das pesquisas do Google ou no GPS que vez ou outra acaba levando as pessoas literalmente para um buraco, por exemplo. O autoconhecimento, essa capacidade de usar a introspecção e observação para saber mais sobre si e o conhecimento profundo sobre a tecnologia serão parte de nossas armas contra a manipulação e o excesso de estímulos para consumir.


A nova era do capital não funciona mais, apenas, por vender algo. Ela funciona por despertar de forma sutil emoções profundas e criar desejos e vazios personalizados. Fazendo com que você tenha o sentimento de que estão falando com você, a personalização é umas das grandes mudanças. Como se programas soubessem mais do que você precisa para ser feliz, do que você mesmo. Essa personalização faz com que o consumo aumente de forma inconsciente. É como se você desejasse tampar algo que você mesmo nem não sabe o que é, mas sente que precisa preencher.


Quando você descobre e se educa sobre suas sensações, emoções e se reconhece como um ser real, você vai se tornando mais capacitado para controlar e lidar com os seus desejos e seus vazios, tira do externo o poder de ditar o que precisa e com o quê deve se preocupar. Daí a importância do autoconhecimento para o seu bem-estar, para o consumo consciente, para o meio ambiente, para a comunidade a nossa volta.


No próximo artigo vou falar mais sobre autoconhecimento e as várias formas de conhecer mais sobre si. Mas faz parte: sair desse automático frenético pouco crítico que a vida cotidiana quer nos fazer estar ou nos obriga a estar. Possibilitando criar tempo e espaço mental e corporal para entender mais sobre nós.


Por fim, para mim o mais importante é que o autoconhecimento nos faz posicionarmos como seres em constante aprendizado e evolução, o que significa ter liberdade e capacidade para criarmos algo novo sempre, assim nunca seremos inteiramente previsíveis. A criação depende de introspecção e conexão com o diferente, ela é improvável e inusitada. Sabendo disso é possível conhecer e usar a tecnologia para que NÓS a saibamos manipular, a tecnologia pode ser nossa colaboradora e não nossa competidora. É possível sim, mas isso não dá para automatizar, depende inteiramente de cada um e como vimos isso deve ser feito o quanto antes.

Por Ana Luiza de Melo Dias


Eu sou Psicóloga Clínica, Coach, pós-graduada em Psicologia Positiva e Coaching e mestranda de Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ. Apaixonada por temas de autoconhecimento, do mundo do trabalho e de como tudo isso pode criar sentido(S) para vida humana.


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