"Será que deveria ter feito esta faculdade?" "Será que seria diferente se tivesse ido morar em outro país?" "Será que que deveria ter aceitado esse emprego?" "Será que saio de casa?" "É a hora de ter filhos?" "Casar? Será?".
Inúmeras dúvidas começam a surgir próximo dos 30 anos, a famosa, mas pouco estudada, Crise dos 30, é um momento de questionamento natural e muito importante, pois nos permite rever e avaliar escolhas em um momento crucial da vida adulta.
No Brasil e no mundo, a maioria das pessoas que tem ou estão chegando aos 30 anos não se sentem satisfeitas com o rumo que sua vida tomou, principalmente, em relação à vida profissional. E a razão, principal, disso tudo de acordo com as pesquisas é a falta de autoconhecimento, como escrevi em meu outro artigo.
Mas por que o autoconhecimento é tão importante nessa fase?
Vivemos a "Era do Pluralismo", isso significa que não existem verdades únicas como no tempo de nossos avós e pais. Diversas verdades convivem no mesmo espaço e tempo. Como podemos ver no caso da atual relação com a religião. É cada vez mais comum encontrarmos, por exemplo, católicos que também acreditam no espiritismo.
O professor e escritor Peter Berger define que o pluralismo significa que os indivíduos juntam as suas crenças (religiosas, por exemplo), tal uma criança uni peças de lego para formar um edifício, assim não surpreende que uma dessas construções se pareçam muito estranhas para quem olha de fora.
Isso não acontece apenas com as crenças religiosas, atualmente, convivemos com diversas culturas, há (ou deveria haver) uma tendência crescente de existir uma convivência pacífica com a diversidade (apesar de em vários momentos isso nem sempre acontecer). Podemos encontrar diversas formas de tratamento de uma mesma doença, podemos ser e pertencer a uma família que não tenha um pai e/ou uma mãe, podemos usar biquíni ou burca na mesma praia (se estamos no Brasil). Ou seja, estamos em conexão constante com a diversidade.
Mas ao somar a Crise dos 30 com o pluralismo, e temos uma proporção maior de questionamentos que já teríamos nessa fase, diferentemente de outros momentos da história. Formas de trabalho, status e escolhas que aos 30 eram óbvias como casar, ter filho, ser bem-sucedido, ser rico ou comprar uma casa, hoje são questionadas e muitas perderam o sentido.
Ser bem-sucedido, hoje, pode ser trabalhar menos, ter segurança, tirar um ano sabático ou ser voluntário de uma ONG. Posso nunca casar, posso casar inúmeras vezes. Posso não querer filhos, posso ter filhos sem ter parceiro (a). Posso morar em qualquer país e não ter casa ou carro, posso morar em um trailer e viver viajando. E posso até querer ser totalmente tradicional. As possibilidades são infinitas...
Assim, a atualidade nos cobra a necessidade constante de se fazer escolhas, mais do que em qualquer outra época, sem a segurança de ter sistemas, instituições, tradições ou instintos nos ditando o que é o melhor a ser feito.
Isso era para ser algo positivo, pelo menos aparentemente, não é? Porém a verdade é que a maioria das pessoas que nasceram na transição desse novo momento da humanidade não sabe lidar com essa aparente liberdade. Digo aparente porque se não sabemos lidar com ela, perdemos-nos em meio às possibilidades e tendemos a paralisar ao invés de "nos permitir voar" e ser quem quisermos ser.
O resultado disso é uma angústia crescente, que em certa hora abre uma espécie de buraco, vazio em nossas vidas, onde a sensação é de ter pouca ou nenhuma certeza concreta e real em nossas vidas. E passamos a viver em uma busca constante de preencher esse vazio, nem sempre com os melhores comportamentos, muitos aparecem compulsivamente como comer, comprar, beber ou tentar se entreter de qualquer forma num tédio que parece não ter fim.
E em geral se não temos a quem recorrer para tornarmos decisões encontramos uma péssima solução: a comparação! A qual, você já deve ter percebido, só faz aumentar o "rombo" dentro de nós. Há de se questionar, inclusive, se as redes sociais não criaram uma espécie de novo sistema de escolhas, em que a medida não sou eu, e o que eu desejo, e sim o outro e o que ele tem, tornando-se o meu desejo.
Assim, o maior desafio e sofrimento da atualidade gira em torno de FAZER ESCOLHAS sem usarmos os outros como medida. Como tomar decisões com tamanha pluralidade? E a resposta é cada vez mais uma só: o AUTOCONHECIMENTO.
Quanto mais possibilidades temos, mais se torna importante entender o que faz sentido para gente. Há um mundo impondo verdades para você, mas só você pode dizer o que faz sentido na sua vida, dentro dos seus valores, dentro do que você acredita que seja sua essência, sua verdade. Como já dizia a famosa e atemporal frase encontrada no Oráculo de Delfos, na Grécia: "Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum"
O autoconhecimento é o caminho da liberdade real. Se você não começar a pensar no que deseja realmente, viverá uma vida repleta de buracos, como um quebra cabeça que outras pessoas colocam e tiram peças e você só fica parado olhando. E não se engane, hora ou outra terá que pensar nisso ou esperará até a Crise dos 40, 50, 60 para se arrepender de não ter tido a vida que faz sentido para você.
Por Ana Melo Dias
Psicóloga e Personal e Professional Coach
Especialista em Psicologia Positiva
P.S.:
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