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  • Foto do escritorAna Melo Dias

Cultura do medo X cultura do crescimento: saiba quais empresas têm lugar no futuro



Outro dia eu vi uma frase em uma rede social que mexeu comigo. Frases de pessoas que trabalham com desenvolvimento humano e profissional. E o conteúdo geral da frase tinha como objetivo dizer para os profissionais que o mundo corporativo tem suas regras, tem seus jogos e a única opção para sobreviver nesse mundo é aceitar tudo como são ou viver de outra fonte de renda.


Fiquei pensando sobre essa frase e no incomodo que ela me causou. Acho que no mundo corporativo isso é o mais comum de se ouvir, principalmente de lideranças pobres ou pouco orientadas: "ou você aceita assim ou você sai". Até porque este é um universo com poderes bem definidos. Mas será mesmo?


Eu fui do RH, na verdade, eu comecei em RH antes de sair da faculdade em uma empresa júnior que prestava consultoria para empresas. E eu sei descobri uma coisa, em algumas empresas, o RH não está a serviço do funcionário, ele funciona para proteger dois medos dos empregadores: greve ou funcionário corajoso e processos contra a empresa. Nessas, onde a cultura é o MEDO, os esforços do MKT interno, do jurídico, do administrativo e da gestão de pessoas são: manter o controle dos empregados, odiar os "sindicalistas" como dizem, evitar uma greve e através de manobras internas processos jurídicos contra a empresa.


E me digam o por quê de ter todo um setor para fazer isso? Por que crucificar de forma exemplar quem vira o jogo de poder?


Porque as regras não fazem sentido como querem que pensemos e muito menos são tão definidas. As regras beneficiam muito poucos e esses poucos têm uma coisa em si que muda tudo. Dinheiro, influência, poder? Não! Quer dizer, eles têm tudo isso, mas sobretudo eles têm MEDO de perder o controle, de perder a PREVISIBILIDADE. E a razão é que uma empresa se baseia em números e resultados para conseguir investidores, para conseguir novos contratos. Para ela crescer esses números precisam ser bem calculados! Os orçamentos de 2021 estão sendo feitos nesse fim de ano com base em previsões. Corporações sabem que não podem controlar todo o mercado, mas podem controlar o imaginário das pessoas com as notícias que alimentam a confiabilidade dela. Funcionário bom é o que eu posso prever, posso controlar. Esse foi o lema de quem ainda vive a cultura empresarial do medo.


No entanto, existe um desafio que se aproxima cada vez mais: o talento. Se eu controlo todos, como eu invento, crio ou tenho meu diferencial? E isso não sou só eu que penso, há uma celebre frase de Steve Jobs "Não tem sentido contratar pessoas inteligentes, e depois lhes dizer o que deve ou não fazer!". E não é de se admirar, mas muitos chamados talentosos são os que causam problemas na gestão.


As empresas que gerem a partir do medo irão possuir para sempre os funcionários que ousam menos, seguem regras e abaixam a cabeça para o "poder", sabe por quê? Porque de forma errônea essas corporações demitem por medo as que ousam quebrar as regras, não sabem gerir talentos de forma humana apenas na porrada. Esse tipo de empresa está caindo para o escanteio a cada ano. São normalmente indústrias de base ou com uma gestão extremamente tradicional, pessoas que enxergam pouco e que em um mundo até então estável fez certo sentido. As gerações passadas viam vantagem na hierarquia do medo, ou você me respeita ou eu te demito. O que não faz o menor sentido, se eu peço pelo respeito ao invés de me mostrar como alguém que o merece, já tem algo errado.


Mas a revolução é inevitável. As empresas que gerem através do crescimento conjunto, onde o RH realmente funciona para desenvolver pessoas não podem gerir pelo medo. Elas sabem que o diferencial não é construído no medo e sim na ousadia, sobretudo, na CONFIANÇA! Podem até negar, porém a a ousadia não pode ser regida! Na era da mudança constante, vocês querem realmente que eu acredite que o universo corporativo permanece o mesmo?


Eu recebo cada vez mais líderes humanos e inovadores, preocupados não com seus salários mas em ter equipes satisfeitas, com saúde! Por que são bonzinhos? Lógico que não! Porque se meus funcionários estão bem, trabalham bem! Se os funcionários têm medo, eles ficarão acuados! Se eles precisam seguir regras de dissimulação constante, eles não faram um trabalho genuíno! Não é inocência, é quase lógica! Se ponham no lugar das pessoas e fica bem claro o que realmente traz resultado: a confiança de poder desenvolver um trabalho sem o medo de ser humilhado ou demitido. Há centenas de novos cursos e treinamentos surgindo para ajudar gestões a não sentirem medo ao expor ideias. Isso é inovador: medo substituído por respeito. Respeito e ética deveriam ser boas regras e não o medo. Ou seja, não é sobre não ter regras e sim sobre ter regras que fazem sentido para um bom trabalho!


O mais triste quando escuto a frase “as coisas são como são” “aceita ou pede demissão” vindo de pessoas que deveriam pensar na evolução de outras pessoas é não entenderem que há poucos anos, a fala de que mulher não deveria trabalhar era aceita como verdade e não havia opções, ou você fica em casa ou fica em casa. Ainda bem que muitas pessoas não aceitaram isso como dado. Afinal, quem constrói regras são pessoas e elas podem mudar o jogo sim. Eis a verdade pouco dita na cultura do medo mudar é natural, não mudar é impossível!


Mas Ana, que inocência! Você acha que um pai de família vai comprar briga contra um chefe? Ou uma mulher vai abrir a boca por ouvir assédio contra ela? Realmente, fica claro, na grande maioria das vezes, que a corda arrebenta do lado mais fraco nas empresas da cultura do medo. Mas e se não for só uma pessoa a enfrentar isso? Pensem, reflitam sobre a real força das pessoas! Se não temos força porque é tão importante calar uma única voz?


Minha vontade toda vez que me dizem que devo aceitar que me maltratem, é de sacudir essas pessoas para ver se elas estão se ouvindo! Se de fato for difícil de mais, não se isole, una-se a quem sabe pelo que você está passando, proteja-se! Se puder e se tiver coragem faça algo que pode estar ao seu alcance, o exemplo é extremamente poderoso.


A questão não é sobre ser inconsequente ou ver o mundo cor de rosa, é sobre ver que há um poder em todos os trabalhadores e que nem sempre eles têm noção disso, pois a tendência é achar que é algo isolado. Já percebeu o que acontece quando uma vítima, principalmente, de abuso resolve falar? Outras pessoas se abrem para o mesmo. Sozinho é bem mais difícil. Você pode tanto! E as vezes não se isolar e se culpar é um grande começo! Corporações regidas pelo crescimento conjunto sabem disso, estão de olho em talentos porque acreditam que uma pessoa é capaz de transformar muitas coisas, uma equipe talentosa é capaz do inimaginável! Conheço diversos exemplos.


Para mim a prova da cultura do medo está no esforço das empresas para manter tudo no lugar, eu sei do quanto nesse tipo de empresa o RH tem poucas escolhas e gasta muita energia para isso, enquanto poderia gastar tempo em inovar e desenvolver! Lembram da greve dos caminhoneiros há poucos anos? Ela parou um país! Um país!!!!! Centenas de pessoas pararam a economia de uma país com mais de 200 milhões de pessoas! Às vezes, eu acho que sou louca por pensar essas coisas, mas quer saber louco é quem não pensa onde está o poder real.


As empresas que não descontruírem a ideia de que trabalhador bom é aquele que só é controlado está fadada ao insucesso, o futuro não as cabe. As novas gerações estão com tudo e estão com garra o suficiente para apontar o dedo na cara das lideranças e chamarem elas de covardes. Elas não toleraram a cultura do medo, você também não precisa tolerar. O futuro possível e viável a sobrevivência humana é sobre pessoas reais ajudando pessoas e valorizando o meio ambiente em que vivem.

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