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Foto do escritorAna Melo Dias

A era do isolamento pede reações


Quem nunca se sentiu sozinho, mesmo estando rodeado de uma multidão de pessoas?


O sentimento de solidão tem crescido, e sabemos que ter relacionamentos sociais é diferente de sentir que faz parte ou que pertence a um grupo de pessoas. Para a pesquisadora Emily Smith o ser humano precisa se sentir compreendido, reconhecido e confortável por amigos, parentes e companheiros. Todos necessitam dar e receber afeto e se acharem em uma tribo. A integração em um grupo deve cumprir duas condições:

1) A primeira trata-se de manter relações baseadas no carinho mútuo, onde todos se sentem valorizados e amados.

2 )A segunda condição refere-se a ter interações frequentes e prazerosas com os outros.

O pertencimento vai além do relacionamento social, apesar das relações sociais promoverem a percepção de que a vida é significativa, é o sentimento de pertencer que em especial promove a crença de que a vida tem um significado.

No mundo moderno há de se refletir como o pertencimento pode ser impactado com as novas formas de se relacionar. Dentre um dos maiores impactos encontra-se o advento da internet, como pode-se ver a seguir, segundo o filósofo Bauman e autor da renomada teoria Modernidade Líquida:

"A facilidade que o virtual parece proporcionar inicialmente de evitar-se o contato com o que seria desagradável, a falta de compromisso com o outro e o próprio salvaguardar-se da rejeição não sai de graça, as relações cada vez mais flexíveis e até desumanas, tornam o indivíduo que busca evitar a insegurança, cada vez mais mergulhado na insegurança. Na sociedade líquida a utilização de aplicativos que facilitam os relacionamentos - independente do gênero - se apresenta de forma interessante e é muito válida, mas a forma com que os indivíduos se colocam e interagem com as plataformas e os outros usuários é o que pode causar algumas dúvidas quanto aos benefícios e prejuízos de sua utilização. Interagir e estabelecer relações é o que nos faz humanos, mas não devemos utilizar estes aplicativos como ferramentas para nos desconectarmos do que nos cerca, é necessário sentir."

Para ele existe uma fragilidade das relações humanas em um mundo moderno, cada vez mais fluido e fugaz. Assim, as relações se iniciam e terminam rapidamente, em uma constante tentativa frustrada de acabar com o problema, logo há sempre o desfazer-se de vínculos, e o relacionamento acaba seguindo a lógica da sociedade atual onde tudo passa rapidamente e se faz obsoleto, sendo necessário adquirir um novo.

Essa dinâmica, a qual o autor chama de “modernidade líquida”, trata de comparar o presente momento como os líquidos que mudam rapidamente sob a menor pressão, sendo incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. Logo também o “amor líquido” aborda um amor que segue a mesma ideia dos bens de consumo, sendo utilizados enquanto trouxerem apenas satisfação, e logo substituído quando não preenchem mais os requisitos do desejo.

Assim em uma época em que se está cada vez mais digitalmente conectado os índices de isolamento social aumentam, segundo Smith, cerca de 20% das pessoas consideram a solidão como uma “grande fonte de infelicidade na vida”, esse aumento do sentimento de solidão segundo a autora revela a falta de sentido nas vidas das pessoas. Para ela estamos na era do isolamento, e por isso, mais do que nunca é essencial as iniciativas de procurar e se empenhar para estabelecer relações próximas, uma vez que se passa muito tempo em frente à televisão, celular e computador e menos com vizinhos e amigos.

Acrescenta-se a isso o fato da vida estar mais movimentada sobrando menos tempo para relações de qualidade e ainda mais móvel, o americano médio por exemplo, muda cerca de onze vezes ao longo da vida, o que dificulta as integrações.

Há ainda uma característica importante da dificuldade de pertencimento que as gerações sofrem cada vez mais, que é a possibilidade de se morar distante da família de origem. As possibilidades de estudar, trabalhar e morar fora do país estão cada vez maiores com a globalização, para as pessoas que decidiram ou precisaram ter uma vida longe da sua cidade de origem o sentimento de não pertencer a lugar nenhum pode ser um problema.

Como reação a este momento de isolamento, um novo movimento surge, os colivings, tendência criada pela economia compartilhada ou colaborativa. Segundo empresários com a chegada da internet e em paralelo ao sistema capitalista, a economia compartilhada surge em busca de um diferencial competitivo frente ao padrão tradicional de indústria lenta, fechada e centralizada.

O coliving tornou-se o representante da grande falta que as pessoas sentem do aspecto dos do pertencimento. O conceito de coliving teve origem em 1972 com o primeiro projeto de cohousing, termo similar ao coliving, que se refere ao compartilhamento de habitações do mundo. Nesse primeiro projeto, comunidade com 35 famílias, na Dinamarca, teve a ideia de manter as moradias privadas e compartilhar espaços de convivência e atividades, como refeições e limpeza de ambientes, com o objetivo de estimular o relacionamento entre vizinhos.

De acordo com esse novo movimento, o objetivo do coliving seria criar um ambiente doméstico que inspire e capacite seus moradores a serem criadores e participantes ativos no mundo ao seu redor. Esses ambientes cultivam colaboração entre os residentes e a comunidade ampliada. As casas possibilitam estilos de vida sustentáveis ​​através do compartilhamento e uso eficiente de recursos e espaço. Assim, o “Coliving é para pessoas que querem um ambiente doméstico que os apoie ativamente em viver com propósito e intenção.”

Percebe-se o fato de que a modernidade realmente tem causado a solidão como um dos seus principais problemas, e que alternativas que adaptam o estilo de vida moderno e a necessidade de pertencimento estão sendo buscadas como alternativa de resolução do extremo isolamento.

Como você se sente com relação aos grupos que pertence ou a falta deles? O que você pode fazer para ajudar a si e a outras pessoas que podem estar se sentindo solitárias nesse momento?

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Por Ana Melo Dias

Psicóloga, Personal e Professional Coach

Coach de Propósito de Vida e Crise dos 30

Especialista em Psicologia Positiva

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